Artesãos do Corpo
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Mrykaok

“Um relato da infância através do corpo”

O ideal de convivência entre adultos e crianças que as sociedades indígenas nos inspiram está retratado no título da peça, mas as cenas e coreografias que se sucedem são fragmentadas como a educação praticada e reproduzida pelos ditos civilizados. Através do depoimento corporal de cada intérprete vão sendo revelados ecos da infância, presentes no corpo e imagens de hoje. Pequenas partes inesquecíveis da vida.

A peça fala de uma época – a infância – que já passou, mas que sempre estará explícita, conscientemente ou não, em nosso corpo. O espetáculo também traz para cena, através da reconstrução estética das experiências dos atores, o pensamento de Lacan que diz: A imagem corporal inicia sua formação na infância, por meio de sucessivas internalizações de específicas imagens externas. A construção deste “mapa cultural” não depende de leis biológicas, mas sim de significações e fantasias de familiares a respeito do corpo.

Mrykaok é um mito indígena do Alto Xingu que representa o espírito do peixe elétrico, algo como nosso “bicho papão”, com a diferença que o peixe elétrico realmente existe e quando ele está no rio é proibido banhar-se ou nadar. Mrykaok traduz, desde as primeiras falas até a concepção da cenografia, como pais, adultos, mídia e sociedade em geral conseguiram dizimar aspectos tão essenciais e importantes para o desenvolvimento das crianças e como isso repercute nelas no decorrer da vida.

Durante a pesquisa para esse espetáculo a companhia visitou sua própria infância, os princípios pedagógicos do sócio-construtivismo, se aprofundou nas teorias de R.Laban e encontrou nas reflexões de R. Barthes alguns dizeres que traduzem o espírito da segunda criação da Cia. Artesãos do Corpo: Biografemas: Lembranças de infância fixadas como breves haicais; pequenas unidades biográficas, índices de um corpo perdido e agora recuperável como um simples “plural de encantos”; traços descontínuos, para as quais não há palavras.
fotos: Fábio Pazzini