Luzes e Sons – ENCONTROS VIRTUAIS DA CIA. ARTESÃOS DO CORPO
Registro, reflexões e memórias dos encontros virtuais da Cia. Artesãos do Corpo durante o período de quarentena.
30/05/2020 (Dawn)
Boa noite,
A pequena Naia recebeu uma pergunta do professor de filosofia: “Escreva uma vantagem e uma desvantagem do mundo virtual”
A resposta dela revela muito da realidade dela…ela digitou (digitou viu – 2 meses atrás ela nem tinha tocada um teclado de computador…) – ‘desvantagem: não pode abraçar. Vantagem: pode falar com família que mora longe’.
O quanto eu estou refletindo sobre a noção de ‘longe’. O que é longe? Como medimos distância?
Mirtes trouxe o texto que falou da “luz proibida” que os cientistas estavam acessando devido as supercorrentes aceleradas – quão longo é essa ‘luz proibida’?
A luz proibida pode também brilhar dentro de uma pessoa sem ser visto por ninguém , dento de um corpo, que não tem espaço para se expressar, um corpo do nosso lado.
A negação de liberdade, de amor, de movimento, de pensamento. Essas também não são luzes proibidas?
Reading a book last night to Orlando called ‘Up in the Garden, Down in the Dirt’ conhecemos os mundos que existem para nosso alimento crescer…quantos bichos micro-minúsculos e quantos movimentos dos elementos macro-magnificos precisamos para que uma cenoura possa crescer…. E o Orlando falou quieto – sussurando ‘eu quero um jardim assim’. Quase chorei…parecia algo longe para eu conseguir dar para ele. Longe. De novo Longe. Quão longe?
Eu tinha um jardim assim, as referências são intimas, pessoais, lembranças que existem dentro de mim da minha infância.
Será que longe, na verdade, toca algo muito perto – mas tão perto, tão tão perto…que doi?
Bjs to all.
Boa noite.
Textos lindos – thank you everyone for writing here. xx
29/05/2020 (Hiro)
Abre-se as asas sobre o piano de cauda, a cabeça prateada se achega ao banco e dedilha as teclas, rodopiante, emergindo de um blackout. A melodia é triste, parece estar sob um véu fúnebre… sob isolamento, sob lamentos confessionais de uma máscara.
Sakamoto, sempre elegante. Cenário, figurinos e instrumentos, matizes que vão do preto ao branco, a cabelereira se ilumina, o teclado, a partitura, a guitarra, o shamisen, branco prateados… em harmonia com os vermelhos e os tons de pele e madeira… tudo muito orgânico. O shamisen alterna melodias estridentes, nostálgicas, intermitentes, contínuas…
Um improviso delicado, concentrado, intenso e limpo… a arte que atravessa as paredes, rompe fronteiras, que se expande com o vento, que toca o nosso corpo, reverbera, extrapola a sala e alcança o outro lado do planeta. Esta mesma beleza se introjeta pelos sentidos, um anti-vírus que faz nosso sistema imune se multiplicar e acender as chamas de nossas súplicas contidas, que nos tira do limbo e nos dá a esperança de amanhã… sons cristalinos, melodias melancólicas em suspensão, em imersão. Furyo, retornar a 1983, voltar a 1942… ser ocidente ou oriente deveria ser apenas uma simples convenção…
Eram as panelas… agora são as lives… acumulando gatilhos e pequenas explosões… Estamos paralisados mas a cabeça não, segue à mil… saturação, ansiedade, contenção…… respirar, respirar fundo até a ponta dos dedos dos pés, preparando os músculos, retesando as pernas para correr, escancarando a boca para gritar a plenos pulmões, cerrar os punhos e atacar… a arte é o nosso principal ofício. De que outras armas vamos precisar? De todas! Vamos precisar de to-das as ar-mas!
Beijos e bom finde! Hiro
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