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ENCONTROS VIRTUAIS DA CIA. ARTESÃOS DO CORPO – OUTONO 2020

posted on maio 6th 2020 in Uncategorized with 0 Comentários

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Registro, reflexões, trocas e memórias dos encontros virtuais da Cia. Artesãos do Corpo durante o período de quarentena.

 

21 de abril de 2020 (Mirtes)

Oi genten
Mais uma vez nos vimos ao vivo para tentar matar as saudades nem que seja pela bendita rede que mais cai a toda hora nos deixando com caras distorcidas, ou bundas flagradas em pleno movimento

Vamos ao resumo do que conversamos hoje. Se eu esquecer de algo é só completar. Ok?

1- Sr Tati chegou no limite de possibilidades de ensaio on line. Agora, com o esqueleto pronto, musicas definidas, figurino, o calhambeque ( aliás esquecemos que já temos carro Dawn!), objetos de cena, raquetes é só aguardar o momento em que pdoeremos voltar a ensaiar juntos.

2- Sugiro que anotemos livremente nossas sensações, histórias ouvidas ou vividas, sobre bichinhos, filhos filmes, sobre familia, amores, brigas, mistérios, medos, alegrias, sonhos acordados e dormidos, enfim, um registro desse tempo suspenso em que estamos metidos sem querer querendo

3- ler o Igarashi. Tem tudo a ver com corpo, invenção da história e podemos traçar um paralelo com o que está acontecendo por aqui desde o golpe até essa história do virus. O capitulo 5 ( vcs receberam a Introdução, o capitulo 1,2 e o 5), fala das Olimpiadas. A questão é: que história vão inventar para essa situação do virus? Lembrem-se de que ele ,, o virus, salva o neo liberalismo moribundo de levar a culpa pelo fracasso do mundo em que vivemos.

4- conversamos tb sobre o paralelo que podemos traçar entre o 11de setembro, o 11 de março e agora, em que milhares de pessoas morrem ao mesmo tempo. Lembramos das Lagrimas de Fukushima, da palestra do Palo Serpa sobre a maneira como os indios enterram seus mortos, sobre enterrar ou queimar, sobre o Sahd guru explicando a morte.

5- Perguntas:
Dawn: minha tia perguntou para mim qual a primeira coisa que vou fazer no fim da quarentena?
Leo: o que esta em crescimento exponencial junto com essa situação e não estamos percebendo?
Leo: coisas para fazer no fim do mundo ( passar creme por exp. )

6-Hiro se junta à Fany no desejo de construir cenários para a p’roxima peça. E todos já se assanham para passar um temporada no sitio da Fany.

7-Hiro comenta sobre os filmes Trono de Sangue, Dersu Uzala e Stalker. Ufa Hiro só faltou Solaris hein?

8-lembrei da importancia de colocarmos o som do trem passando do outro lado do Rio Doce enquanto Krenak dava uma entrevista. A aldeia, segundo ele treme a cada x que esse trem da morte passa. E ele passa dia e noite, como se a Vale quisesse tirar a ultima gota de vida da terra, antes que o mundo acabe. Lembrei do grito do pavão que gravamos.

9-Lembrei de fatos que antecederam o virus:
-Notre Dame pega fogo
-Veneza teve uma grande inundação
-13 vulcões entram em erupção ao mesmo tempo
-pássaros caem mortos do céu em Roma, Turquia, Grécia, Dinamarca

10- Sonhos: relatos de muitas pessoas que passaram a sonhar. O tema dos sonhos, Shizumi e Kirê voltam com força

11- comentamos da inutilidade de fazer arte sem ver as pessoas ….
Dawn enviou o texto que fala sobre isso.

até quinta
beijos mil
mi….benzendo

 

28 de abril de 2020 (Mirtes)

 

Olá
Mais uma vez tivemos que nos contentar em nos vermos pela fria tela do computador.
Como bem disse o Leo- não se animem, aqueles que são os “p’raticos”, aqueles que pronto- encontramos um jeito mais econômico de distribuir arte- on line. Não- não será assim. Certamente, ainda Leo, aparecerá uma nova forma artistica, sim, pode ser artistica, mas não substitui a nossa forma, por exp, de processo artistico para a criação de peças, performances.

Mas, mesmo pela fria tela do computador, pudemos nos enternecer com a aparição do Guegué, super companheiro louro, de ouvir como estão tods e de, por que não, ficar vendo o Marcelo bocejar o tempo todo.

Fany- ainda não entendemos o que aconteceu. Vc sumiu e não te vimos mais. Tudo bem por aí?

Conversamos sobre a observação de que as pessoas voltarão à suas rotinas, seus empregos mixurucas, sua rotina, que para muitos, necessária para dar sentido à essa coisa que estamos chamando de vida. Até quando? Não sei.

Ok, sem criticas desnecessárias. Cada uma sabe o que é possivel fazer.
Mas será que perderemos as sensações que esse momento está revelando? E mesmo que não as percamos – até onde estamos dispostos a ir para mudarmos de fato?

Dawn nos contou sobre o encontro virtual para falar das águas
Hiro deu entrevista à Casper Líbero sobre sua experiência com os anos 60/70 e 80. Queremos ouvir sobre isso, mas ao vivo . OK? E talvez, valesse a pena uma rodada de conversas sobre a trajetória de cada um. Já fizemos isso ha um tempo atras, mas acho que podemos repetir.

Leo lança uma questão: vamos perguntar para as pessoas como a quarentena as fez melhorar em algo. Quem sabe, chegar na emoção por esse meio
Leo tb diz que entendeu mais sobre o MA. Vai nos escrever sobre isso né?

Observando o grupo de estudos japoneses, fico impressionada com a pressão que eles se impõe para ler. Gente- são tantas indicações de livros que precisaríamos de mil quarentenas para dar conta de tudo aquilo. Ok, é o metier deles. Acho demais, mais ainda assim..
Nós ao contrario, precisamos na quarentena cuidar justamente de respeitar a pausa! Isso chegara no nosso corpo e consequentemente na maneira como nos moveremos e criaremos. Além da pausa, o corpo sensivel ( Leo só me orgulha) e o corpo mais fisico. Como não estamos andando vamos perdendo tonus. Uma média diaria de 3h dedicados ao corpo seria o ideal. Afinal, não temos que criar nada, apresentar nada, ler desesperadamente nada. Tudo que estamos fazendo é assim – um olhar que viaja pelas informações sem muita preocupação.  Mas , ao voltarmos o corpo deve ter mantido o seu estado ideal.
Sei que Dawn, por exemplo não pode tirar 3 horas, mas nós podemos. Divido esse tempo em 3 momentos: em jejum – no meio da manhã e no final da tarde.
mentira
tem dias que fico só nos exercicios em jejum e na yoga.
mas prometo me esforçar….

Então vamos criar nosso compromisso de movimentação. Vale dançar sem compromisso, vale fazer o que lembra, sempre sabendo que de um espreguiçãr outros esticares aparecem, outras mãos e pulsos vão sentir vontade de girar e – outras pausas- vão surgir. A pausa da suspensão da cidade, a pausa do ficar em casa e a pausa que vamos percebendo ser mais fácil de acessar nessas condições.

Também é interessante observar como estamos surfando por momentos de preguiça total, de se jogar na superficie mais mole que encontrarmos, com momentos de querer se mexer e outros de tristeza, sei lá. Parece que vem tudo ao mesmo tempo. Em outros dias, como diz a Dawn, será que posso ficar feliz? Me sentir bem?

Com toda essa complexidade vamos levando nossa quarentena.

Até quinta à tarde
beijos mil
mi…exercitando

 

29 de abril de 2020 (Fany)

Desde que começou a quarentena, vivenciei muitas emoções.. no início,  ansiedade, medo e angústia, depois tristeza e aceitação,  depois raiva e medo, e no meio desses sentimentos um outro que era de esperança,  paz e sossego vinha também,  vinha até com uma especie de culpa, mas veio, e agora vem e volta todos esses sentimentos, as vezes misturados as vezes um deles toma mais espaço.. É um momento de muita reflexão, mas é maluco, pois é difícil pensar diante de tudo isso.. tantas coisas… tudo pode ser, tudo pode acontecer.. é, acho que é um período “MA” mesmo.. todas as potências estão escondidas nesse período, assim percebo.. as potências destrutivas sepre exibidas e intrusas, vem e aparecem na nossa frente a cada segundo desequibrando as potências positivas que cultivamos, mas elas estão lá também.. também se alimentando desse momento.

Gosto de pensar que não paramos, continuamos a nos encontrar, trocar ideias, inspirações e projetar peças futuras.. Talvez o MA vive no movimento também.

Hoje aqui no sítio venho sonhando muito, todos os dias acordo e durmo com o céu lindo de outono e começo a trabalhar no que sonho como realização de um trabalho. Estou construindo a “Casa Mateira” esse espaço está longe de estar pronto, mas está cheio de potência nele, mas posso continuar sonhando quando olho para suas paredes.

E se esse momento não tivesse acontecido, difícilmente eu teria conseguido trabalhar nele como consegui fazer. Claro, essa é a minha visão de alguém muito privilegiada de ter tantas regalias na vida, mas fiz.. está aos poucos acontecendo, conheço muita gente que conseguiu diminuir a frequência da sua ansiedade e aproveitar do silêncio da cidade, e cuidar mais de si..

Enquanto isso muita gente morrendo, enriquecendo e milícias se fortalecendo.. falo tudo isso sem saber para que. Não estou positiva em relação ao mundo, não acredito que estamos melhorando em nada, mas também não penso que estamos piorando.. mas também não sei nem o que pensar..

Vamos aprofundar, nos aprofundar, viver esse momento, e talvez sonhar de novo.. acho que apenas o futuro sabe o que isso tudo vai dar..

 

30/04/2020 (Mirtes)

 

OI Fany

Ler o que vc escreveu é o mesmo que ouvir meus pensamentos e sensações pelas quais venho passando. A única coisa que me deixa um pouco surpresa é que vc, diferentemente de mim, está num lugar mais puro e ainda assim, todas essas questões te atingem. Privilégio de quem reflete? Pode ser. Alienados nunca seremos. Nem embaixo d’água. Bem, embaixo d’água eu estaria mortinha….
Lembram quando falei da neblina? Quer dizer, quem falou foi ….esqueci. Estamos na neblina densa. Teremos que criar em nossa visão o que será daqui pra frente.
Acho que seu espaço vai acolher muita arte. Se não para apresentações , para ensaios, preparação do espírito e do corpo.
mi…inquietando

 

05/05/2020 (Mirtes)

Mais um encontro virtual. Acho que já perdi a conta de quantos fizemos Alguem sabe?

Bem, hoje o assunto pegou fogo – a entrevista de Alain Damasio nos fez, ao final, pensar em desobediências e que tais, a fim de escapar de um isolamento que começa a nos parecer absurdo em certos aspectos e que livra a cara dos governantes que nunca fizeram a sua parte- ou seja, cuidar das cidades, das pessoas e de não permitir que o povo fique na miséria como estão, fazendo que que duvidemos da humanidade.

A questão da “imunidade”foi levantada pelo autor e aco que só nessa idéia tem muito caldo para uma próxima conversa. Vamos reler?

Enquanto isso, vamos cuidando de abastecer de dados essa imensa rede, vasta e infinita, com nossos cliques , bate papos virtuais, filmes, afinal, como escapar disso hoje né?

beijos mil

mi..revoltando

 

06/05/2020 (Leandro)

Entrar e não pisar.

Vejo a todo mundo e o que acatamos como forma de estar resguardado: vários cômodos, com seus objetos de afeto, janelas, portas, plantas…  casa… ambientes preenchidos de cada um.
Acostumamo-nos a ir ao encontro de, com a roupa do corpo, uma bolsa a tiracolo e nossas subjetividades.

E agora? Difícil explicar, né? É um meio outro.

Este “chegar” trás em mim uma sensação que tinha antigamente, quando algum irmão gritava da sala: “Vai começar o Jaspion!” A gente corria, se acomodava o mais próximo possível da tela e acontecia.

É um espanto revir esta sensação.

Buscar  memória de uma emoção adormecida talvez seja um dos meus processos de assimilar transformação. Porém, o meio ainda é outro e a tela de hoje também me reflete e me vê. Tudo instantâneo, simultâneo e interativo, com a presença requerendo um esforço do qual não se tem ainda muito jeito.

(…)
Problemas de conexão e microfone até a reunião começar para mim. Entra no programa. Sai do programa. Um ajuste okay e consigo participar da reunião cibernética. Todos os rostos são queridos e estão em baixa definição.
Hiro está experimentando como usar o celular para mostrar a casa com mais detalhes. Aquele fundo que sempre vemos, muda… vai ganhando profundidade em cada cantinho do que é um lugar de habitação. Ele mora lá desde 1984… Não é coincidência, meu caro Orwell? Também é coincidência o aniversário da Audrey?
A vista não é mais a mesma. As corporações estão enriquecendo. Medo. Desobediência. Desconfiança. Pandemia. Fé e descrença. Complexidade. A vida que se tem, a vida que se terá. Paradoxos. Temas que são lançados e apanhados em rede.
Na França, no Brasil, na Nova Zelândia, na Índia, nos Estados Unidos…  e como antes, ainda somos os mesmos, mas é diferente, Belchior… não estamos vivendo como nossos pais.
Entrar e não pisar.

 

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