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Conversas e ensaios

posted on julho 31st 2015 in Uncategorized with 0 Comentários

portao casa do migrante

SESC Carmo – conversa com Denise Orlandi Collus

O SESC Carmo trabalha com refugiados há 20 anos ministrando cursos de Português, entre outras ações. Para lá vão através da Caritas, instituto que oficializa o refugio.

Denise conta que Don Paulo Evaristo Arns tinha paixão pelo tema do refugio e para ela seja refugio ou imigração todos se igualam na situação de solidão e limbo, como já haviamos constatado antes. Nós temos que pensar que essa situação de refugio pode nos atingir também, diz Denise com convicção.

Foi nessa conversa que pela primeira vez ouvimos falar da CABRA- uma instituição francesa que acolhe escritores refugiados.

Em anos de contato com pessoas nessas condições, Denise possui uma longa lista de falas e sentimentos guarados:  uma refugiada Peruana e fotografa considera o refugio como uma prisão a céu aberto! Num curso de escultura em argila, Denise ouviu de um refugiado o desejo de colocar uma “pedra nisso tudo” e não deseja que ninguém mais lhe pergunte nada sobre suas origens. Vem daí as recomendações sobre o cuidado ao abordar essas pessoas com perguntas indesejaveis.

Denise faz uma pesquisa com idosos ou refugiados invisiveis ( segundo ela) e atentou para a diferença de pensamento entre velhos e jovens refugiados.

A cada visita que fazemos as informações se avolumam. Uma coisa é certa: todos esses pesquisadores e voluntarios são apaixonados pelo tema. Um mundo se abre a nossa frente e certamente nos modificará para sempre.

 

Domingo com M. refugiado da Síria

M. veio da Síria há dois anos e meio a convite de seu tio que possui um comercio de alimentos em São Paulo. Ele veio se juntar a tantos outros que essa familia acolhe.

Seu relato é comovente e nos deu muitas inspirações para a peça que estamos construindo.

Ele disse que na Síria nunca houve problemas com as diferentes linhas religiosas.

Ele tinha uma loja de doces que foi destruida pela milicias pró Assad e após ver quatro de seus amigos serem mortos na sua frente com tiros na testa, sua mãe implorou que ele fugisse primeiro para o Libano e depois para o Brasil.

A polícia do governo quebra tudo e domina pelo medo. O país tem muita corrupçao e as primaveras árabes acirraram a repressão. Os recursos para intimidação são assombrosos: eles prendem crianças e quando o pai vai reclamar na polícia eles dizem que sabem o paradeiro da criança e fala para ele enviar sua esposa que eles farão um novo filho para eles.

A polícia solta prisioneiros com dinheiro e armas para eles se infiltrarem nas manifestações e provocar uma confusão na opinião mundial. A TV divulga tudo errado.

Muitos jovens de 18 anos são pegos à força para  servir o exercito.

Saiu triste de lá. Sei fazer doces e sinto saudades de passear por Damasc, diz M.

A praia é lugar do presidente – ninguém pode ficar lá quando ele está.

Esses falas são relatos da época em M. estava na Siria há dois anos e meio atras. Ele fala um português com bastante sotaque e deixamos que ele falasse à vontade. Por isso o relato é truncado e também por não acharmos conveniente entrar em mais detalhes.

Hoje  ele, seu irmão mais novo, sua mãe e seu irmão mais velho com a esposa estão todos no Brasil. Seu pai e uma irmã lá ficaram.

Eles parecem se adaptar bem por aqui e sempre que estamos nos empanturrando de kibe e coxinhas na loja de seu tio vemos que as pessoas que lá compram os tratam bem, brincam com eles.

Outro dia, passamos por lá e ele estava todo orgulhoso pois colocaram nas paredes  quadros com fotos da Síria. Que lindo. O país tem sítios arqueológicos maravilhosos, cidades milenares. Tudo sendo destruído pela Guerra.

Ele prometeu nos visitar no studio, cantar para nós canções da sua terra. Mas o trabalho intenso ainda não deixou……

 Os ensaios no saguão da pastoral continuaram até a situação ficar mais complicada: a chegada de imigrantes se intensificou e eles ocuparam essa parte para dormir.

E agora o teto está passando por reformas.

O espaço continua mais MA do que nunca.

Estamos ensaiando no estudio e visitando esses lugares de quando em quando.

Nossa próxima meta é quem sabe, vencendo questões legais, ter no nosso convívio duas pessoas que vieram de outros lugares desse planeta tão conturbado.

Mirtes Calheiros

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